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A década da cannabis medicinal chegou

A década da cannabis medicinal chegou

O ritmo do avanço da cannabis para uso medicinal nos últimos 10 anos foi tal que a regulamentação, a ciência e a medicina relacionadas à cannabis hoje são quase irreconhecíveis em comparação a uma década atrás.

O número de Estados americanos e países com programas médicos de cannabis explodiu, e essas mudanças ajudaram a levar mais de uma dúzia de jurisdições a adotar ou considerar a legalização da cannabis de uso adulto também.

Do ponto de vista científico e médico, a quantidade e o ritmo de pesquisas em andamento – e a legitimidade destas – propiciarão a rápida descoberta dos inúmeros benefícios e aplicações que a cannabis tem a oferecer.

Associada e entrelaçada a esses desdobramentos, houve uma mudança radical na opinião pública em todo o mundo em relação à cannabis em geral e, mais especificamente, à compreensão de sua aplicação medicinal e de seu perfil de baixo risco.

Portanto, nesse início de década – a qual reserva uma grande promessa de avanço, de maior acesso e de compreensão dos benefícios da cannabis medicinal –, vale a pena fazer uma retrospectiva sobre o quão longe chegamos.

Mudanças Regulatórias e Legais

Cannabis dispensiary in Canada
People wait in the rain to purchase cannabis on the first day of legalization in Canada, October 17, 2018. (Doug Mclean, Shutterstock)

No final de 2009, apenas 13 Estados nos EUA contavam com programas de cannabis para uso medicinal, e nenhum deles permitia explicitamente a marijuana recreativa, de uso adulto. Até 1º de janeiro de 2020, 33 Estados e mais de dois terços da população dos EUA viviam em Estado em que a cannabis para uso medicinal é legalizada de alguma forma.

Até o fim de 2020, acredita-se que 28% dos americanos viverão em Estados nos quais a cannabis recreativa é legalizada. Há uma década, esse número era zero.

Em termos globais, estima-se que 15% da população mundial vive hoje em locais nos quais está em curso programas de marijuana para uso medicinal. Somam cerca de 40 países, não incluindo os Estados Unidos.

O Uruguai chocou o mundo quando se tornou o primeiro país a legalizar completamente a cannabis em 2013. O Canadá seguiu o exemplo, em 2018. A cannabis medicinal também tornou-se legal para uso no Reino Unido e na Irlanda, em 2019. O território da capital da Austrália também legalizou a cannabis recreativa em 2019.

Vários outros países, incluindo Colômbia, Peru, Venezuela e Equador, também legalizaram a maconha para uso medicinal ou descriminalizaram o uso pessoal na última década. A legislação aprovada na Jamaica em 2015 concedeu às pessoas o direito de posse de até 56 gramas de cannabis.

E o ritmo continua aumentando. Muitos outros Estados dos EUA – como Nova York, Nova Jersey, Novo México, Flórida, Connecticut e outros – devem considerar ou avançar na legalização da cannabis nos próximos anos.

Outros países, como Luxemburgo, México e Nova Zelândia, também estão propensos a legalizar oficialmente a cannabis nos próximos dois anos. Bem no finalzinho de 2019, o governo de Trinidad e Tobago descriminalizou a posse de até 30 gramas de marijuana.

E estes são apenas alguns exemplos.

Marcos e Vitórias

Não há dúvida de que a jornada para a legalização da cannabis tem sido desafiadora. Ela também foi agraciada com vitórias que revelam uma mudança de percepção em favor da cannabis, não apenas entre o público, mas também entre legislaturas e judiciários de todo o mundo.

No México e na África do Sul, o caminho para a legalização surgiu como resultado das decisões da Suprema Corte, que estabeleceu que é inconstitucional aplicar a proibição absoluta à cannabis.

No Reino Unido, o pontapé inicial do programa de cannabis medicinal foi dado por pais de crianças com raras formas de epilepsia que lançaram campanhas públicas para obter acesso legal ao único tratamento que funcionava – o óleo de cannabis.

Na Tailândia, o vice-primeiro-ministro e ministro da Saúde Pública Anutin Charnvirakul anunciou recentemente um programa para difundir as oportunidades econômicas criadas pela cannabis para uso medicinal, permitindo que os residentes cultivem até seis plantas em casa.

Nos Estados Unidos, o governo federal não apenas permitiu a produção em massa de cânhamo (definida como cannabis com menos de 0,3% de THC), fomentando um crescimento maciço para a produção e as vendas de CBD, como  o Congresso inclusive começou a deliberar sobre a descriminalização federal.

No âmbito estadual, os legisladores e promotores locais dos EUA começaram a retificar alguns dos danos causados ​​pela proibição da cannabis. Na Califórnia, as autoridades estão começando a apurar 54.000 condenações por cannabis em dois municípios, e as autoridades de Illinois prometeram eliminar cerca de 800.000 registros criminais a partir de 1 de janeiro de 2020, quando a planta tornou-se legal no Estado.

Mudanças nas Atitudes do Público

Legalize cannbis protest
A protest to legalize cannabis

É impossível dissociar todas essas transformações das mudanças na atitude do público em relação à cannabis. Na verdade, é difícil reconhecer se a opinião pública liderou ou foi liderada pelas mudanças regulatórias. No entanto, que sabemos que, pelo menos nos Estados Unidos, as pessoas estão se tornando cada vez mais favoráveis ​​ao acesso e à legalização da maconha medicinal ao longo dos anos.

Nesse começo de década, dois terços (67%) dos americanos dizem que a marijuana deveria ser legalizada, de acordo com uma pesquisa da Pew Research realizada em setembro de 2019. Mais de 90% dos entrevistados disseram que ao menos a marijuana para uso medicinal deveria ser legalizada. Uma década antes, em 2009, apenas 44% dos americanos apoiavam a legalização.

Três dos fatores que ajudaram a mudar a opinião pública foram: a compreensão dos custos da aplicação das leis de proibição da cannabis, particularmente no que diz respeito ao encarceramento de infratores não violentos; os rápidos avanços da ciência e da medicina no entendimento do valor terapêutico da planta; e o desejo de procurar alternativas para analgésicos comuns, os vilões da epidemia de opioides nos Estados Unidos.

Uma grande quantidade de pesquisas foi realizada na última década sobre os custos da proibição da cannabis. Um artigo intitulado “Avaliando a repressão à marijuana em Maryland” resumiu esses esforços, observando que “a aplicação mais rigorosa tem pouco efeito sobre o uso, o crime ou a segurança pública da marijuana”. Os autores também descobriram que essa aplicação “tem um impacto racial substancialmente desigual”.

Muitos pesquisadores também salientaram que a aplicação de regulamentos federais envolvendo a cannabis – e o subsequente encarceramento de criminosos não violentos – não era economicamente viável. Uma pesquisa do Center for American Progress mostra como o impacto econômico da legalização da cannabis pouparia um enorme volume de fundos dos contribuintes (e continuaria gerando receita adicional):

“… a legalização da marijuana economizaria aproximadamente US$ 7,7 bilhões por ano em custos de execução evitados e renderia outros US$ 6 bilhões em receita tributária. O total líquido, US$ 13,7 bilhões, pode enviar mais de 650.000 estudantes para universidades públicas todos os anos”.

A Pesquisa sobre Cannabis é Duplicada

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O segundo componente que influenciou drasticamente o sentimento do público foi a pesquisa emergente que detalhou os benefícios terapêuticos da cannabis.

Em 2014, o Subcomitê de Desenvolvimento de Diretrizes da Academia Americana de Neurologia procurou investigar a eficácia da cannabis para várias condições neurológicas severas. Isso foi feito através de uma revisão sistemática de 34 estudos realizados entre 1948 e 2013, com foco na esclerose múltipla (EM), epilepsia e distúrbios do movimento. Os autores concluíram que a cannabis era eficaz na redução de espasmos e no esvaziamento da bexiga em pacientes com dor neuropática ou disfunção urinária.

Um artigo de 2015 publicado pelo The Journal of American Medical Association revisou a literatura médica sobre a cannabis medicinal em 28 ensaios clínicos randomizados. Ele encontrou evidências para apoiar o uso de cannabis em dores crônicas, dores neuropáticas e espasticidade provocadas pela EM.

Esse salto também se reflete na quantidade de pesquisas voltadas para a cannabis medicinal. Em 2009, uma pesquisa por “cannabis” no PubMed, um banco de dados on-line de literatura biomédica, apresentou 9.641 resultados. Uma década depois, em 2019, uma pesquisa idêntica apresentou 21.230 resultados, muito mais que o dobro.

Um dos artigos publicados na época, um estudo de referência de 2008 do Dr. Ethan Russo, “Canabinoides no tratamento das dores de difícil tratamento”, ajudou a dissipar muitas das associações negativas e duradouras associadas com “A Loucura do Baseado”.

Uma das convergências mais convincentes da promessa medicinal da cannabis é exemplificada pelo seu potencial como tratamento para a epilepsia. O CBD, em particular, mostrou um potencial tão grande como agente antiepilético que o FDA introduziu o Epidiolex, uma solução oral baseada em CBD, em 2018, “para o tratamento de convulsões associadas a duas formas raras e graves de epilepsia, a síndrome de Lennox-Gastaut e síndrome de Dravet”. 

A decisão do FDA mostrou que a cannabis tinha um valor medicinal significativo, o que contradiz seu status legal ultrapassado como uma droga de Categoria 1.

Avanços na Ciência da Cannabis

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Em conjunto com os grandes avanços na pesquisa médica sobre  a cannabis, os cientistas também fizeram avanços significativos no que sabemos sobre a planta em si.

Em 2009, pesquisadores da Universidade do Mississippi descobriram nove novos canabinoides, elevando o número total de canabinoides conhecidos para 80. Hoje, os pesquisadores já identificaram 144 canabinoides na planta de cannabis, e esse número ainda deve crescer.

Este é apenas o início da adoção dos canabinoides pela ciência convencional. O governo dos EUA recentemente se espantou quando o Instituto Nacional de Saúde anunciou que financiaria pesquisas para entender melhor as propriedades analgésicas de canabinoides secundários e terpenos.

Os canabinoides são uma grande promessa da medicina, mas configuram apenas um dos diversos tipos singulares de compostos encontrados na cannabis. A pesquisa ajudou a consolidar a ideia da cannabis como medicamento, tanto que a planta agora é considerada um tratamento eficaz para várias condições. Isso inclui o tratamento dos sintomas de HIV / AIDS, câncer, glaucoma, EM, TEPT, dor crônica, náusea e distúrbios convulsivos.

Por Dentro da Próxima Década da Cannabis

O futuro da cannabis parece incrivelmente promissor. Além da pesquisa de cannabis financiada pelo governo, também estamos começando a observar um aumento no número de instituições e programas dedicados ao estudo da planta e a todo o seu espectro de efeitos.

A Universidade da Califórnia, Berkeley, deu um salto quando criou um Centro Multidisciplinar de Pesquisa sobre Cannabis dedicado a explorar os efeitos da planta no público. A Universidade de Baltimore, Maryland, foi notícia em 2018 ao lançar o primeiro programa de mestrado em cannabis do mundo.

Outros pesquisadores também estão mergulhando cuidadosamente nas possíveis novas aplicações para a cannabis medicinal. Agora, muitos fabricantes exploram a tecnologia solúvel em água ou nano emulsionada, com o objetivo de criar produtos com ação mais rápida e biodisponíveis.

Fabricantes e empresas farmacêuticas também estão correndo para explorar e desenvolver canabinoides secundários como o CBG à medida em que surgem mais pesquisas sobre esses compostos. O THCV é outro canabinoide que está sendo analisado por seus possíveis efeitos sobre o diabetes e no controle de peso.

O que os próximos 10 anos reservam para a cannabis? Só o tempo dirá, mas estamos prontos para descobrir.

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