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Cannabis Pode Ajudar com Autismo?

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Visão Geral

O transtorno do espectro do autismo (TEA) é uma deficiência no desenvolvimento que afeta a interação social, a comunicação e o comportamento. É um fenômeno mundial que afeta uma em cada 160 crianças. Com o diagnóstico de TEA triplicando nos últimos 15 anos, o ônus para a sociedade está crescendo exponencialmente. Os pais geralmente se vêem com opções limitadas de tratamento que podem não ajudar significativamente seus entes queridos. Nos últimos anos, vários pais adotaram a cannabis para uso medicinal como uma alternativa relativamente livre de efeitos colaterais. Felizmente, a ciência está se atualizando com vários estudos que relacionam  anormalidades no sistema endocanabinoide a algumas características principais do TEA. Também há pesquisas promissoras sugerindo que a cannabis possa ser um tratamento seguro e eficaz para o autismo.

O Sistema Endocanabinoide

Descoberto enquanto cientistas investigavam como os compostos da planta da cannabis afetam o organismo, o sistema endocanabinoide (SE) é uma rede complexa de ligantes gordurosos chamados endocanabinoides (principalmente anandamida e 2-AG, mas também compostos endógenos relacionados, ácido araquidônico (AA), N-palmitoiletanolamina (PEA) e N-oleo-olanolamina (OEA)), seus receptores (CB1 e CB2) e as enzimas responsáveis ​​por sua formação e degradação (FAAH e MAGL).

Sabe-se hoje que o SE está envolvido em todas as funções biológicas. No artigo Funções neuromodulatórias do sistema endocanabinoide, o SE foi denominado “um dos principais mecanismos reguladores do cérebro a controlar múltiplos eventos como humor, percepção da dor, aprendizado e memória”.

Assim, podemos pensar no SE como o “maestro de nossa orquestra biológica”, o que mantém todas as “seções” tocando em harmonia. Mas o que acontece se esse regulador principal estiver desequilibrado poderia ter algum papel, por exemplo, no desenvolvimento do autismo?

Um estudo de expressão gênica em cérebros post-mortem de indivíduos com autismo descobriu que eles compartilhavam uma expressão reduzida do receptor CB1 (os receptores CB1 são abundantes em todo o sistema nervoso central). Outro estudo que analisou os níveis dos principais endocanabinoides, e seus compostos endógenos relacionados, em 93 crianças com TEA constatou que estes apresentavam níveis mais baixos de anandamida (AEA), N-palmitoiletanolamina (PEA) e N-oleoiletanolamina (OEA), sugerindo que a deficiência endocanabinoide pode contribuir para o autismo.

Outras anormalidades observadas no SE incluem alterações nos níveis das enzimas responsáveis ​​pela quebra do 2-AG, bem como a falta de anandamida descoberta na área do hipocampo do cérebro, o que resulta em déficit no comportamento em jogos sociais. Ambos foram observados em modelos de autismo em roedores.

Alguns desses estudos têm suas limitações; o TEA existe somente em seres humanos, enquanto os modelos animais contribuem somente na replicação da condição. Além disso, a atividade endocanabinoide incomum pode ser uma evidência de que o SE está simplesmente fazendo seu trabalho, ou seja, tentando recuperar o equilíbrio da função cerebral. Tomemos, por exemplo, a superexpressão dos receptores CB2 encontrados em crianças de três a nove anos com autismo. Nesse caso, os cientistas especularam que o aumento na expressão de CB2 seria apenas o SE atenuando o estado inflamatório comumente associado ao autismo.

Há um campo de pesquisa excitante se abrindo frente à perspectiva de que a manipulação do SE possa ter efeito terapêutico sobre alguns sintomas do autismo.

Baixos níveis de ocitocina, um neuropeptídeo associado ao comportamento social, foram associados ao TEA, em particular ao comportamento de recompensa social. Além disso, pesquisas mostram que a administração de ocitocina pode ser uma abordagem terapêutica eficaz para pessoas com TEA com níveis de ocitocina abaixo do normal. Um estudo usando um modelo de rato com TEA sugere que o SE pode regular a sinalização da ocitocina e que, ao aumentar a anandamida, é possível obter uma reversão total de qualquer comportamento socialmente prejudicado. Isso poderia explicar por que um dos efeitos positivos observado pelos pais de crianças autistas que recebem cannabis para uso medicinal foi a maior capacidade e facilidade para interagir socialmente?

Cannabis e Autismo

A cannabis tem sido utilizada há milhares de anos para uma ampla gama de doenças sem que os médicos entendessem exatamente como ela afeta o organismo. Atualmente, sabemos que a planta de cannabis compreende pelo menos 144 compostos chamados canabinoides, sendo o mais abundante o tetra-hidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD).

Embora ainda resta muito a descobrir sobre como o THC e o CBD afetam o organismo, sabemos que eles interagem com o sistema endocanabinoide. Assim como a anandamida e o 2-AG, o THC se liga aos receptores CB1 e CB2, enquanto o CBD trabalha de maneira mais sutil, inibindo a enzima responsável pela quebra da anandamida no corpo (FAAH).

Sugere-se que os canabinoides ajam para apoiar o sistema endocanabinoide, que, como sabemos, regula tudo, desde o sono, o apetite e o humor até o sistema imunológico e a memória. Isso pode explicar o número impressionante de casos em que crianças com TEA grave tiveram seus sintomas amenizados enquanto utilizavam cannabis para uso medicinal.

Essa evidência episódica inspirou dois estudos retrospectivos recentes, ambos provenientes de equipes diferentes em Israel, onde atualmente 2.500 crianças e adultos com TEA recebem tratamento com canabinoides por meio do programa nacional de cannabis medicinal.

O primeiro estudo, realizado pelo laboratório do professor Raphael Mechoulam, foi baseado nas experiências de 188 pacientes com TEA entre 2015-2017. Eles receberam maconha medicinal com uma proporção de 30% de CBD para 1,5% de THC. Um tratamento rico em canabidiol foi a escolha óbvia, já que se descobriu que o canabinoide não intoxicante tem efeitos anti-ansiedade e anti-convulsionante, sendo bem tolerado e seguro em crianças.

Após seis meses de tratamento com marijuana para uso medicinal, 30,1% dos indivíduos notaram uma melhora significativa em sua condição, 53,7% moderada e 6,4% reportaram uma leve melhora. Além disso, os marcadores de qualidade de vida, como a capacidade de tomar banho e se vestir de forma independente, sem dificuldade, dobraram, e 84% dos indivíduos com TEA que também tinham epilepsia relataram o “desaparecimento dos sintomas”.

Assim, os autores concluíram que o tratamento com cannabis é uma “opção segura, eficaz e bem tolerada para aliviar os sintomas associados ao TEA”.

O segundo estudo, publicado logo depois, em março de 2019, avaliou 60 crianças com TEA que receberam cannabis rica em CBD como tratamento adjuvante por 7-13 meses. Uma melhoria considerável nos problemas de comportamento foi observada em 61% dos indivíduos, 39% em suas dificuldades em relação à ansiedade e 47% no tocante à comunicação. A maioria das crianças estava tomando outro medicamento juntamente com a cannabis, com 33% tomando uma dose mais baixa e 24% abandonando o medicamento até o final do estudo.

Apesar dos resultados positivos e relativamente poucos efeitos colaterais, o autor Dr. Adi Aran sugere uma abordagem cautelosa para prescrever cannabis para TEA, pois o estudo não tinha grupo controle e usou uma ampla variedade de cepas e potências de cannabis. O Dr. Aran realizou um ensaio clínico de estágio 2, cujos resultados estão aguardando publicação.

Atualmente, outro estudo clínico de estágio 2 está sendo conduzido com o medicamento Epidiolex purificado de CBD em crianças e adolescentes com TEA, enquanto outro compara a administração de CBD e de outro canabinoide, o CBDV, em homens com autismo.

Conclusão

Pessoas com autismo e suas famílias precisam urgentemente de terapias eficazes, e talvez a cannabis possa desempenhar um papel importante em seu tratamento. Certamente são necessários mais estudos hoje eles são escassos devido ao atual ambiente regulatório da cannabis.

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